Mulheres de cabeça raspada são tendência da quarentena
Falta de salão, insatisfação com o visual, desejo de liberdade, ansiedade, tédio... Um conjunto de fatores e sentimentos ligados à pandemia do novo coronavírus tem levado mulheres — daqui e de fora — a radicalizarem. Nas redes sociais, pipocam imagens de pessoas que, durante o isolamento social para quem pode ficar em casa, se desfizeram da cabeleira, passando a máquina na cabeça. E quem ousou conta estar muito satisfeita com a transformação. É o caso da cantora de rock Neíra Nazareth: ela deixou para trás o cabelo Chanel com bico e adotou a cabeça quase totalmente raspada. O que sobrou, rente ao couro cabeludo, pintou de azul.
Editoriais de moda —internacionais, inclusive — apontam essa como uma
tendência da quarentena. E mulheres de (muita) personalidade têm encarado
sozinhas essa transformação na frente do espelho. Neíra sempre gostou de mudar,
tem várias tatuagens, mas nunca tinha indo tão longe, e sem ajuda profissional.
— Com esse negócio de quarentena, sem ter muita coisa para fazer, comecei a arrancar meu cabelo. Já cheguei a tratar isso antes, mas hoje amamento e não posso tomar os remédios —diz ela, de 29 anos, mãe de Pedro, de 1 ano e 7 meses.
Depois de muita pesquisa na internet, ela aprovou:
— Por que não posso ser tão feminina quanto a mulher que tem cabelão?
Estou me sentindo livre, por inteiro, sem moldura.
A personal stylist Thais Farage, de Perdizes, na capital paulista, faz
sucesso no Instagram com o look. “Não tô em crise, não tô (especialmente)
entediada, não tô maluca, não sou Britney 2006. Eu só queria raspar há muito
tempo, e aí as coisas confluíram”, postou ela, que tinha cabelo acima do ombro
com franjinha.
— Virei a influencer da careca, todo dia me mandam foto — brinca Thais,
de 36 anos e mãe de Miguel, de 5.— Já mudei meu cabelo milhões de vezes. Pinto
desde muita nova, tenho cabelo branco desde os 20. Estava de saco cheio da cor
e, quando começou a quarentena, ele perdeu o corte rápido. Comprei uma máquina
e raspei primeiro a lateral. Amei. Uma semana depois, raspei tudo.
Ela conta que o ato lhe tirou trabalho. “Não me achei gata, mas achei
divertida, livre, ainda eu”, escreveu no Insta.
De Jacarepaguá, a produtora cultural Beatriz Novellino foi outra que
aderiu.
— Antes do carnaval, fui ao salão e cortei para me livrar da química.
Mas aí veio a quarentena, e ele cresceu fora do corte. E como o isolamento está
me angustiando e trazendo tédio, resolvi fazer experimentações — relata
Beatriz, que antes de raspar, platinou os fios. — Na noite de domingo, minha
mãe estava cortando o cabelo do meu padrasto e eu falei: “amanhã vou raspar”.
Dito e feito: na segunda-feira, pegou a máquina e começou a “brincar”.
— Super indico, é muito gostoso! Sensorialmente e visualmente é uma
experiência que faz repensar.